Que nem limão

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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Porque você (não) deveria fazer um mestrado (1)

A primeira vez que eu tentei entrar em um mestrado foi antes de eu terminar a faculdade. Foi também a primeira vez que eu ouvi a pergunta: e você falou com a pessoa que você gostaria que te orientasse? Foi uma pergunta simples, mas na hora eu não entendi bem. É que, embora eu tivesse feito toda a graduação sabendo que eu faria um mestrado quando a concluísse, eu descobri que não tinha ideia de qual seria o caminho a percorrer quando isso acontecesse. 

Diferentemente de um vestibular, uma seleção para mestrado e doutorado é uma coisa extremamente subjetiva. Os editais até tentam objetivar, mas o resultado final vai ser influenciado pela boa e velha confiança. Quando você é escolhido por um orientador, você assume um compromisso muito sério de que você vai terminar um trabalho. É um voto de confiança que pode dar muito certo ou muito errado (e todas as variações possíveis entre esses dois extremos). 

Na minha trajetória já contei com a ajuda de muitas pessoas para quem eu perguntei coisas, pedi esclarecimentos sobre editais que eu não entendia, pedi para fazer inscrição, enviei coisas pelo e-mail, pelo correio, enfim (você não pode ter muita dificuldade em pedir ajuda quando você chega em um território que pra você é novo). Agora que eu tô na metade do doutorado, ajudo feliz as pessoas que estão a fim de entrar nessa história. 

Isso dito, a primeira pergunta que você deveria fazer é: por que eu deveria fazer isso? 

Um mestrado leva dois anos, um doutorado quatro. Como eu disse antes, é um compromisso sério. Poucas coisas na vida acadêmica pegam pior do que desistir, independente se você tá no começo, meio ou fim do caminho. Então, existem algumas respostas pra essa pergunta:

Eu quero ser professor: fazer um mestrado é essencial.

A questão salarial é importante e um mestrado valoriza o passe. Mas, se você fizer um mestrado aproveitando as aulas, as discussões e o tanto que você vai estudar para escrever sua dissertação e os trabalhos, fazer um mestrado vai te dar mais articulação, mais segurança e, sobretudo, vai te mostrar que as pessoas todas têm dificuldades em falar sobre o que se propõem. Um mestrado pode ser uma boa lição de humildade e, se você aproveitá-la, vai parar de achar que só o fato de estar lá te faz muito especial. Lembre sempre de Sheldon Cooper: Você tem um mestrado? Quem não tem?

Eu terminei a faculdade, não consegui um emprego e quero ocupar meu tempo e aproveitar para concorrer a uma bolsa.

É muito bom ter tempo para se dedicar ao mestrado e se você não trabalha terá esse tempo. Mas é preciso tomar cuidado: mestrado não é emprego e dois anos passam muito rápido. Uma coisa é você aproveitar seu tempo livre para uma pesquisa sobre a qual você consegue investir seu desejo. Outra é seu único motivador ser uma bolsa bem mequetrefe que tem tempo de validade. CLT é melhor que bolsa de estudos e pós-graduação não deveria ser plano de carreira. 

Eu já trabalho e se eu fizer mestrado vai rolar uma progressão salarial

Um bom motivo. Mas tem que tomar cuidado para não virar sacrifício. Um mestrado é sobre o desejo de produzir algo a partir de uma escrita. Se você acha que a progressão salarial é mais importante do que o produto do mestrado, serão dois anos difíceis. Tenho visto muita gente sofrer com a inibição que o processo causa. Pesquisa é uma atividade séria. Se você não gosta de ler e escrever vai ser uma merda e muito estresse vai rolar. Lembre que quem vai escrever o trabalho vai ser você.

Em síntese: o quanto de desejo existe à disposição para entrar nesse processo? 

Se o tamanho do seu desejo for a bolsa de milepoucos pilas, já adianto: vai ser sofrido. O mestrado é um processo cujo resultado não é um diploma vistoso, mas toda a formação que ele acrescentou pra você. Mas ele vai te exigir investimento, de tempo, dinheiro, trabalho, sono.

PS: eu queria falar sobre o processo de seleção e o post ficou muito grande. Por isso, vou escrever outro texto outra hora.

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