Que nem limão

Que nem limão

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Tempo, tempo mano velho.

O tempo é uma coisa louca. Sem que você veja ele já tá servindo de medida para tudo o que você tem ou teve nessa vida. É por isso que ele vira referência na nossa fala. "Há dois anos", "quando eu nasci", "em 2001". Contar a vida pelo tempo, essa sucessão de dias e noites, meses e anos pode acabar se transformando em um parâmetro tirânico.

É que se espera que a gente faça alguma coisa do nosso tempo. Deve ser daí que nasce a nossa estranheza diante daqueles cuja vida consiste em acordar, se manter vivo e dormir. É engraçado isso. Estava pensando outro dia que a maioria de nós não tem que se ocupar com manter-se vivo, por isso é que se ocupa de tantas outras coisas.

Fico aqui imaginando o que seria de mim se minha vida não fosse inteira protegida. O que eu faria do meu tempo? Porque é disso que se trata. As diferentes maneiras de viver o tempo tem a ver com o nível de proteção que te ronda, que te abraça ou que te oprime.

Meu interesse pelo tempo é antigo. Acho que sempre me ocupei do passado, das histórias, das fotografias em preto e branco. Ouvir histórias é ouvir as pessoas falarem de forma metafórica sobre o tempo. Nossa vida se torna, então, metáfora inevitavelmente. Algumas mais bem vindas que outras. Outras mais interessantes que algumas. Os dias de uns podem importar mais que os dos outros. E assim medimos o tempo também pelas histórias nossas que se mantêm, que não se apagam.

Esses dias, pensei em perda de tempo. Acho que cada um sente que perde o tempo de formas diferentes. Eu adoro dormir, mas me sinto perdendo tempo. Eu amo cinema, mas me sinto perdendo tempo se não gostei do filme. Eu adoro sair com meus amigos, mas me sinto perdendo tempo se o lugar não me agrada. Perdendo o tempo que preciso gastar comigo. É que esse tempo é precioso para eu existir. Esse tempo que me permite pensar sobre o tempo. 

Outro dia, preenchendo um formulário, no campo "profissão", escrevi "professora". Essa é uma mudança que veio junto com o tempo. Ou que o tempo trouxe. É uma nova metáfora.


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