Que nem limão

Que nem limão

quarta-feira, 26 de março de 2014

Fortuna

Esses dias eu estava pensando como a gente é sempre o último a chegar em algum lugar. Ou talvez essa seja apenas a minha sensação quando eu divago sobre a posição que ocupo na minha família. Sendo essa ou não a razão (e eu acredito que seja), sempre me senti chegando depois.

Tenho uma lembrança antiga de que no primeiro dia de aula a sala já estava cheia quando eu entrei, e todos aqueles olhos olhavam massivamente. E aí, penso se essa sensação, tão incômoda, não seja a responsável por me adiantar sempre, para não ter, outra vez, tantas outras vezes, aquela curiosidade pouco velada que as crianças escancaram mas que os adultos também têm.

Quando você chega por último há um tipo de trabalho que nem todo mundo tem sucesso, que é entender o que está acontecendo. Funciona assim quando nascemos, quando vamos pra escola, quando conhecemos os amigos, os amores, quando começamos a trabalhar, enfim. Esse conhecimento com o tempo vira reconhecimento porque os ambientes e as regras não mudam tanto. 

Este reconhecimento exige um trabalho de observação que desde cedo eu aprendi bem. Deve ser por isso que fui uma criança tão quieta e muito introspectiva. Engraçado como cada situação nova me enchia com um medo sempre muito grande, sempre muito envolvente. Mas engraçado também como paralisar diante dele nunca pareceu uma opção viável. Era como (e ainda é) se não houvesse possibilidade de desistência. E aí, fica em mim uma marca que eu reduzo (e por isso acabo simplificando) à teimosia persistência.

Não sei até que ponto essa é uma palavra que uso continuamente como um eufemismo em lugar da outra, a teimosia. Fico pensando na construção deste espaço, deste lugar que eu ocupei quando cheguei nesse mundo e na reforma que eu empreendi nele à medida que fui crescendo. Acho que sempre gostei de brincar de arquiteta. De criança quieta à adulta falante. Só que eu ainda sou a criança quieta. E ainda chego nos lugares olhando ao redor e olhando as pessoas como se elas fossem estranhas à mim.Como se elas não fossem de verdade na minha vida.

Esse tempo de ambientação me abre as portas e eu deixo que as coisas aconteçam sem torná-las difíceis demais. Não são difíceis porque eu pressinto que são conhecidas e agora estão apenas sendo reconhecidas. Voltando com outras cores a um universo que se tornou imenso à medida que o mundo teve seus efeitos sobre mim. É uma sensação de tranquilidade, muito boa por sinal, de estar no lugar certo. 

Hoje sou feliz por onde moro, por quem amo, pelo que faço. Me disseram que eu sou protegida, afortunada.

Não duvido.

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