Que nem limão

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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A batalha dos travesseiros

Conversar é versar junto.

Todo mundo sabe essa parte da história: eu gostei do Wyllian desde a nossa primeira conversa e desde esse dia, sabia que queria ficar com ele. Quando ele me ofereceu amizade, eu disse que já tinha amigos o bastante. Era outro tipo de verso que eu precisava.

Minhas amigas bastavam, não pelo número, mas pela existência cotidiana delas em mim.  

Se você conhecesse hoje aquele seu amigo de muito tempo, como seria? Seus assuntos combinariam? Vocês falariam um sobre o outro com admiração? Quando algo importante acontecesse, essa pessoa seria lembrada?

Hoje escrevo para falar sobre uma amizade que respeito não apenas pelo tempo de morada que fazemos quando passamos a ser um pedaço da vida de alguém. Mas também porque, se nos conhecêssemos hoje, seríamos amigas, nossos assuntos combinariam, nós falaríamos uma da outra com admiração e sempre que algo acontecesse ela seria lembrada.

As definições desta amizade são sempre atualizadas: por mais que as mudanças de anos, cidades, estados civis e de espírito sejam constantes. 

Mudança. É o nome do movimento que a gente faz para continuar (r)existindo a cada escolha sobre quem a gente quer ser na vida. E é uma das grandes que me leva a escrever esse texto que, na verdade, é um convite. E dos mais importantes.

Quando eu decidi casar, eu decidi fazer uma grande mudança. De cidade, de estado, de região. Foi uma decisão tomada no tempo suficiente para os pesos da balança da vida mudarem de lugar. Chegou o momento em que mudar era um ganho.

Decisão tomada, comecei a organizar a mudança, dar um destino às coisas. Deixei muitas sem dó. Mas aí, encasquetei que queria ficar com quatro travesseiros. Mandei lavar os benditos. Eram bons travesseiros, mas estavam comigo há alguns anos. Foi uma baita briga por conta deles. Wyllian não queria trazer. Fui grosseira e irredutível. Os travesseiros, em vez de amortecerem, trouxeram à tona vários assuntos ignorados. Foi uma das discussões mais difíceis desses anos juntos.

Para quem você contaria sobre a batalha dos travesseiros? Eu contei para duas amigas cujas opiniões valem ouro, e nem sempre são consonantes às minhas. Elas se compadeceram, entenderam a mim e ao Wyllian, que tinha a missão de fazer esse frete.

Uma delas é a Bianca, e é sobre ela quem vou falar aqui. Ela me disse duas coisas:

O Wyllian precisa entender que você tá deixando muita coisa sua pra trás. Que pela primeira vez na vida, você faz uma escolha que envolve outra pessoa que não você. É muito difícil, por mais feliz que você esteja em ir embora...E, Gê, travesseiro a gente troca de dois em dois anos.

Nesse dia, ela disse uma grande coisa: que eu tinha direito em me apegar aos travesseiros, embora não fosse muito higiênico. Wyllian os trouxe para Brasília embalados à vácuo. Ele também deixou para trás coisas velhas, para que as novas tivessem espaço. É isso que a gente faz quando escolhe conversar com alguém nesse nível de intimidade. É preciso estar disposto a ouvir e ver o outro.

Penso que foi com a Bianca, que comecei a aprender a fazer essas duas coisas. É porque ela é capaz de longas conversas até dormir para eu não ficar triste. Nossa amizade nasceu destas longas conversas. E elas foram curativo, tantas e tantas vezes. A palavra tem essa mania de ser cimento nas relações que sobrevivem ao tempo. Não é a toa que ela é psicóloga de gente que vive o máximo da fragilidade humana. Ela é muito boa nisso.

A história da batalha dos travesseiros é uma clássica ilustração do que é ter a Bianca em minha vida. Sinceridade, acolhimento, humor e absoluta ausência de pieguice.

Quando começamos a organizar o casamento, uma das certezas era a escolha não religiosa. Queríamos um amigo realizando essa cerimônia que oficializa a decisão de conversar até ficarmos velhinhos (e o Wyllian usar um dos famigerados travesseiros para fazer cosplay do tiozinho de Amour).

Quanto a essa decisão, Bianca foi a única certeza. Alguém que não teria vergonha em falar, pois sabe usar as palavras de amor, amizade, companheirismo e mais um bando de coisas. Eu sempre falo: tenham uma Bianca. Eu tenho, então eu posso perguntar:

Ow, Bianca, você aceita me casar?

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