Que nem limão

Que nem limão

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sobre medo e paciência

Hoje havia uma senhora na minha frente na fila do caixa no supermercado. Ela digitava o CPF vagarosamente e enquanto fazia isso, falava para a caixa e para a empacotadora o que ela costumava comprar com o valor das compras. As duas moças estavam sem graça e eu estava esperando. Esperei pacientemente. Não me exasperei, não desejei ter escolhido outro caixa e nem que ela tivesse procurado o preferencial. 

Há algumas semanas eu sonhei que meu pai corria. E esse foi um sonho infantil. Realização pura de desejo. Meu sujeito infantil só queria que o pai corresse e não precisasse mais da minha ajuda. Meu sujeito infantil sempre esperou a ajuda dele, e não o contrário. 

Os últimos dois meses passaram com a mesma velocidade de um ano. Os dias passam muito devagar quando você está à disposição do que o outro precisa. É minha primeira experiência em que as minhas necessidades não são minha prioridade. Eu nunca achei que fosse eu capaz disso. Eu fui.

Hoje eu só queria que o tempo acelerasse e que eu chegasse naquele momento em que meu pai não precisa estar correndo, mas andando com mais segurança; em que ele consiga preparar e dar as aulas dele; em que ele tenha o mais próximo possível da vida que ele sempre teve.

Foram dois meses em que evitei chorar, porque a coisa mais fácil é sentir pena de si mesmo e, sobretudo, dele. E por mais medo que eu tenha, esse sentimento que a gente tem quando não sabe o que está porvir, o medo dele é muito maior que o meu.  E isso precisa vir em primeiro lugar.

De saldo restam duas coisas. A primeira é doída, é a realidade de que os pais envelhecem. A segunda é a paciência com a senhora da fila do supermercado. E essa segunda coisa é só um dos traços que garantem a eternidade das pessoas na nossa vida.

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