Que nem limão

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Pode tirar o cavalinho da chuva

"Pode tirar o cavalinho da chuva".

Na minha vida, muitas questões foram encerradas com essa frase. Pequenininha, eu não entendia o que ele significava, mas entendia o que ela tinha de significante. E até hoje eu sei reconhecer as situações em que não há nada a ser feito, a não ser tirar meu cavalinho da chuva. 

Pensei sobre ela um dia que estava em uma loja comprando um presente pro meu pai. Ali havia um casal e uma criança de uns três anos, que corria pela loja, como qualquer criança dessa idade faria. Eu estava esperando o vendedor voltar do estoque e vi quando o menino se aproximou de um balcão mais baixo e começou a puxar uma peça. A mãe disse para ele parar. Ele não deu atenção e começou a puxar vigorosamente as peças da pilha inteira. A mãe olhou para o pai, ele saiu de onde estava  e foi em direção ao filho. Quando chegou perto, se abaixou, demonstrando estar em dia com os episódios da Super Nanny e disse sério: "Assim não, príncipe". 

O príncipe riu de seu súdito e continuou o expediente com as calças até o fim. O pai impotente, olhou para mãe com ar perdido. A mãe olhou pra vendedora, que estava constrangida, e disse: criança nessa fase é difícil. Ali no meu camarote eu pensei que ela tinha razão, crianças nessa fase são mesmo difíceis e é por isso mesmo que não cabe a elas decidir o que pode ou não ser feito, especialmente se a ação delas não é sem consequência. 

A menos é claro, que ela seja uma princesa ou um príncipe. 

Desde então, toda a vez que ouço uma criança ser chamada assim, eu me incomodo. É verdade que o bebê carrega a majestade. Mas ele precisa ser destituído desse trono, se a gente não quiser ver a cena lamentável de uma vendedora refazer um trabalho que foi desfeito não só por uma criança de três anos, mas pelo pai e pela mãe que cuja coroa apareceu quando não ofereceram ajuda para fazer o que filho desfez. 

Daí minha implicância com esse termo. Que os bebês sintam-se banhados pela importância de sua majestade é uma coisa. Outra bem diferente é uma casa em que os adultos viraram bobos da corte que ficam recolhendo os cavalinhos ensopados, ou pior, fazendo com os outros que nada tem a ver com isso, recolham.

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