Que nem limão

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

E se as princesas da Disney fossem feministas?

Dia desses, encontrei o homem aranha andando na rua, de mãos dadas com a mãe, muito seguro de si. As pessoas que estavam comigo comentaram que os filhos delas vão ser desses que andam fantasiados. Eu disse que os meus também e o assunto não se estendeu. Éramos três adultos que acham legal crianças que se fantasiam, sem teorias sobre o assunto, só entusiastas da ideia.

Mais ou menos pelos mesmos dias soube de uma coleção de livros infantis cuja ideia era trazer para o esse universo a vida de mulheres como a Frida Kahlo. Nem preciso dizer o quanto eu acho que isso é muito legal. Mas tem uma coisinha que me incomodou: o nome dessa coleção é antiprincesas. Acho que não é novidade pra ninguém que as princesas da Disney não têm um único dia de paz. Elas são sempre colocadas nas mais variadas situações. Digite "e se as princesas da Disney..." no google, e veja o que acontece. 

Eu conheço muitas menininhas que as amam ou as amaram em algum momento da vida. Assim como eu também conheço o fato de que nem todas as princesas da Disney são da Disney mesmo. Muitas delas têm alguns séculos de idade e foram criadas em um contexto de fantasia, por isso essas histórias chamam-se contos de fadas. 

Só isso já é indicativo de que existe muita magia envolvida nas histórias relacionadas às princesas. A magia, ou o pensamento mágico é uma característica marcante da primeira infância e um dos elementos cujo desdobramento é a criatividade. As crianças acreditam em magia, da mesma forma como acreditam que seus pais são as pessoas mais poderosas e infalíveis desse mundo. É por isso que é tão sofrido quando elas descobrem que nada disso é verdade.

Não tenho filhos, mas cheguei num ponto da minha que conjecturo seriamente a respeito. E quando penso sobre isso, costumo pensar que tipo de mãe eu vou ser. Eu já sei que eu vou ser uma mãe que vai deixar o filho ou filha usar fantasia de herói. Mas e a fantasia de princesa? Será que eu deixo? Essas princesas que vivem histórias em que, embora elas sejam protagonistas, são sempre salvas por um príncipe? Essas princesas que ficam à mercê do que o mundo faz com elas? Como eu posso gostar delas e ser uma mãe feminista? É muita incoerência?

São muitas perguntas para quem não tem filha. E os problematizadores poderiam ainda problematizar que pode ser que o meu filho queira usar a fantasia de princesa. Mas hoje eu não tô pensando sobre isso. Hoje eu tô pensando sobre ser ou não necessário eu ser uma mãe antiprincesa. Foram as princesas que me ensinaram que eu preciso ser magra, de um vestido bonito e de um príncipe? Ou foi uma dentre todas as outras coisas que eu vivenciei ao longo da vida? Pedindo licença para ser bem psicanalistona, será importante a função simbólica de um príncipe na vida de uma menina de dois, três, quatro anos? 

Eu quero que a minha filha conheça a Frida e também as muitas outras mulheres que foram e são importantes para que eu tenha me tornado quem eu me tornei. Mas eu também gostaria que, com dois anos, ela acreditasse em magia, porque o que sobra da magia que a gente viveu na infância faz com que, ao crescermos, tenhamos esperança o suficiente de que é possível fazer alguma coisa para mudar o que não está certo fora da fantasia.

Minha conclusão é: eu não sou antiprincesa. Espero não perder a carteirinha de feminista por isso.

9 comentários:

  1. Temos princesa Leia, que é princesa, mas luta por aí com stormtroopers. Temos Mulher Maravilha, que tem super poderes, que podem ser a magia a ser preservada. Que tal?

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    1. Fer, minha questão é justamente a possibilidade de a criança gostar da princesa porque ela é princesa como a cinderela, aurora, Ariel...a Léia não é de conto de fadas e a mulher maravilha não é princesa!

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  2. E tem a princesa Merida do Valente!
    Não lembro se gostava de princesas quando era criança, acho que nunca liguei muito pra isso. Mas acho importante que a criança, seja menino ou menina, acredite em magia.

    Falando em princesas, uma coisa que me incomoda MUITO é pessoas que chamam os filhos de príncipe e princesa. Inclusive já falei sobre isso com o Felipe e ele também não gosta. Mas aí já é assunto pra outra conversa, haha.

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    1. Amo a Mérida! E adoro essa história e a de frozzen também é legal. Mas gosto de pensar que as outras histórias tem simbologias importantes. Sobre esse outro assunto, ainda quero escrever sobre. Tenho pavor nesaa história de chamar filho de princesa e príncipe!

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  3. Ihhh Ge. Vou te falar uma coisa. Vc vai deixar ela/ele se fantasiar sim! Com certeza! rsrs. Não tem como resistir. O que vale é orientar sobre o "assunto" príncipe/princesa da forma como vc achar melhor. Até porque, por um bom tempo eles acreditam em tudo o que a gente fala. Acho que essa "magia" é essencial na infância. E esses contos de fadas tem outras mensagens que acabam tendo uma importância maior para os pequenos. Vc será uma ótima mãe feminista! tenho certeza! A fantasia de princesa não vai ofuscar a sua ideologia, não. rsrs Saudades, bjoo

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    1. Acho que você tá certa. A orientação que a gente faz toda a diferença!

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    2. haha sou eu Ge, a Ana Isabel. Agora que vi que estou como desconhecida. bjoo

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  4. Um texto desproblematizador! Muito bom!

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