Que nem limão

Que nem limão

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A beira da garça


"Eu tive uma namorada que via errado. O que ela via não era uma garça na beira do rio. O que ela via era um rio na beira de uma garça. Ela despraticava as normas." (Um olhar, Manoel de Barros)

Estudando pra um concurso, encontrei esse fragmento que me fez pensar sobre um mau humor que sempre me alcança quando eu fico muito tempo fora da minha casa. Me desculpem, eu sei que tá no manual que todos deveriam amar viajar. Eu gosto. Só que eu gosto mais de voltar. 

Gosto tanto do meu canto que têm vezes que preciso lembrar que isso também é despraticar as normas. Extrapolar as minhas beiras, que dificuldade. Especialmente quando, ao me aproximar das outras beiras, fico sem respostas.

Talvez seja só minha chatice crônica, essa que os velhos têm e que eu venho praticando. É só que, às vezes, eu queria conversar sobre as coisas da vida, pra além da existência cotidiana que precisa ser mostrada para ser um tiquinho mais válida. 

Eu tenho com quem partilhar isso sim. Aliás, isso é bem ilustrativo porque amanhã é dia dos namorados. E por aqui não vai ter declaração de amor, foto de casal e rememorações sobre meu namoro. Aliás, não vai ter isso do lado de lá também. Não é nosso estilo (não estou julgando). Mas é que conversas sobre nosso namoro, sobre a garça, sobre o futuro, sobre um vídeo, sobre a crise na educação pública são constantes. E como resposta nunca ouço o eco da minha voz.

Essas conversas estão rareando na vida ao redor. Tanta forma diferente de comunicação e tudo sobre o que a gente fala é do cotidiano. Eu quero saber o que você acha sobre a vida e não sobre as coisas com as quais a gente a preenche. Eu queria poder saber se, pra você quem tem beira é o rio, a garça, ou os dois.

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