Que nem limão

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Procrastinando: um jeito de viver

- Meu nome é Angela e eu sou uma procrastinadora.
- Oi, Angela.

Não sei dizer direito como isso de procrastinar começou. Mas me lembro que quando eu era criança não tinha muita supervisão em coisas como estudar para a prova e fazer a tarefas. O que eu tinha era uma certeza de que, caso eu não fizesse essas duas coisas, as consequências seriam duras. Mas o fato é que desde cedo eu aprendi a adiar. 

Também preciso dizer que não gosto da palavra adiar para falar sobre a procrastinação. É que embora ela esteja na própria definição do termo, ela perde as nuances do que isso significa. Procrastinar poderia ser uma daquelas palavras que se auto-traduzem, como badulaque, chilique e sussurro. Não precisa explicar  o que significam porque, foneticamente, elas estão se contando: "eu significo tal coisa".

Enfim, por que eu acho que a palavra adiar não é boa? Porque adiar me parece mais resoluto, mais decidido. Coisas como: "preciso ligar para a assistência da sky, não posso agora porque estou trabalhando, ligarei depois do almoço". Quando você adia você transforma esse adiamento em um plano. E não pensa mais a respeito dele.

Todo mundo que procrastina sabe que não funciona assim. A gente deita na cama, liga a televisão e fica ali, pensando que basta pegar o celular e ligar na sky. Que você não está fazendo absolutamente nada além de assistir o Jamie fazer algum prato delicioso que você nunca vai colocar em prática. Você simplesmente não liga. Por quê? MISTÉRIO.

Na verdade não é tão misterioso assim. É que com o passar dos anos, você aprendeu que um belo dia você vai pegar aquela lista imensa e vai resolver de ticar ela inteira. Vai fazer todas as coisas com tamanha agilidade que qualquer um vai achar você uma pessoa muito competente. Aliás, não é nada incomum que os outros pensem que você é competente e responsável. É porque eles não sabem que entre a execução de uma atividade, você ficou pensando no quanto você não consegue fazer nada direito, no quanto você se questiona sobre os lugares que você ocupa e porque as pessoas confiam em você.

E todo esse questionamento explica de novo a questão de porque adiar não serve para definir procrastinar. É que quando eu procrastino eu penso sobre a coisa o tempo todo, eu rumino sobre ela. Eu me angustio com ela. Eu penso no quanto eu já deveria ter começado.

Aí vem uma outra questão: todo procrastinador é meio prepotente. Nós vamos dizer que deixamos para depois porque sabemos que daremos conta e que, inclusive, o que fazemos nos acréscimos da prorrogação sai muito mais criativo e inteligente do que se tivéssemos começado há dois meses. Isso significa que o procrastinador só vai saber trabalhar junto com quem é como ele. Ele não aguenta a ansiedade dos outros, porque ele sabe o segredo: o de não se angustiar com a água batendo na bunda.

Daí vem a prepotência. É que a gente se acha tão bom nadador que só tá esperando a água chegar até o pescoço pra que fique mais gostoso sair nadando. E se salvando.

2 comentários:

  1. E tem aquele orgulho besta de ter deixado tudo pra ultima hora e ainda sim ter feito melhor e mais rápido que quem gastou meses na tarefa.

    por que a gente é besta assim, né?

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  2. Olha, nem no aurélio encontra-se uma definição melhor.confesso minha procrastinação, aliás prova disso é que estou aqui comentando às 1h41 e ruminando sobre relatórios, meus lugares, minha capacidade, e essa mania de agilizar na ultima hora. Há quem diga que eu sou um neurótico obssessivo com meus compromissos etc, mas verdade é que "eles não sabem que entre a execução de uma atividade, EU fiQUEI pensando no quanto EU não consIGO fazer nada direito, no quanto EU Me questionO sobre os lugares que ocupO e porque as pessoas confiam em MIM..."

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