Que nem limão

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terça-feira, 24 de junho de 2014

Feminismo e Universidade

Não faz muito tempo, cheguei a me tornar monotemática, de tanto que eu falava e escrevia a respeito do feminismo em sua luta diária contra o machismo. Em muitas situações, e com os mais diversos públicos, me coloquei a partir de uma perspectiva de que o feminismo não é o contrário do machismo, uma vez que não existe no movimento feminista (em cada particularidade que esse movimento nada homogêneo apresenta) nenhum viés de dominação da mulher sobre homem. 

A grande questão feminista não passa sequer perto de um sistema de dominação arraigado e ideologicamente estruturado em que um gênero é considerado em detrimento de outro. Uma feminista não odeia os homens e nem a feminilidade (apesar que quando usamos essa palavra temos também que tomar o cuidado para não preenchê-la de machismo). Penso que o feminismo fala de uma luta contra um tipo de dominação que existe desde a primeira vez que uma menina/mulher e que um menino/homem é apresentado com as noções "coisa de homem", "coisa de mulher". 

Essa separação entre o mundo cor de rosa e o mundo azul tem consequências dramáticas na vida de todas nós. E na vida dos meninos/homens que também, desde o nascimento, estão inseridos nessa lógica. Passamos a reproduzi-la desde muito, muito cedo. E vendo do lugar em que me encontro hoje, as cores dessa reprodução são bem tristes.

Esse lugar é de mulher, psicóloga, professora universitária, filha, amiga, tia, colega de trabalho. Se cito todos esses meus papéis é porque em cada um desses locais existem respingos do machismo que, por muitas vezes, mancham a delicadeza com que eu busco tratar as minhas relações. 

Hoje, no facebook, eu soube de uma aluna do curso de Direito da UERJ que foi atacada publicamente por um professor abertamente liberal. O manifesto da Maria Clara me trouxe um tipo de familiaridade que eu preferiria jamais me identificar. Mas infelizmente, como alguém que já foi vítima dessa relação de poder em que o elo mais frágil era eu, porque era aluna, cada palavra dela me causou um tipo de sentimento que sei não ser a única a compartilhar.

Sempre que um manifesto feminista ou sempre que as perspectivas feministas são apresentadas elas sofrem um tipo de ataque. Existem várias formas desse ataque dar as caras e a cara mais conhecida nossa é a "brincadeira" ou a "piada". Quando um professor escreve seja em uma página social ou seja no quadro negro, ele deve se responsabilizar por isso. E eu penso desse jeito porque acho que, para além de uma profissão, ser professor é uma posição. E eu sou partidária de um ensino libertador e não opressor. E sei que sou idealista e ingênua. E sei inclusive que vai ter quem diga que o professor pode dizer o que quiser no perfil do facebook dele. 

Posso até concordar com essa posição, mas não sem antes dizer que podemos dizer o que quisermos, desde que nos responsabilizemos por isso. E toda vez que alguém termina um ataque sob os termos da "brincadeira", esse alguém está dando um jeito de se desresponsabilizar. E eu, que cresci na lógica "sujou, limpou", tenho dificuldade de apreender como se faz para sair pela tangente.

Não que minha opinião valha de grande coisa, mas só o fato de o professor que atacou Maria Clara ter sido defendido num dos veículos de comunicação mais questionáveis que eu conheço, por um sujeito que além de mal intencionado não me parece muito inteligente, me faz pensar no quanto a verticalidade da relação professor-aluno, e mais especialmente na da relação professor- alunA nos coloca num lugar de impotência.

Ler o manifesto da Maria Clara e saber das lágrimas dela não apenas me fez pensar nas vezes em que já estive nesse lugar. Mas também nas possibilidades que o lugar que ocupo hoje me oferece para construir e desconstruir relações que não obedeçam essa lógica. 

Meu namorado me disse esses dias que alguém comentou com ele que eu sou uma feminista bem radical. Não sei o que essa pessoa quer dizer com isso. Mas se a minha radicalidade está na compreensão de que as palavras são meios reforçadores de relações extremamente desiguais e que o humor pode fazer um mau uso delas, então, eu sou sim.

2 comentários:

  1. Ge, concordo totalmente com você.
    Acho que também sou uma feminista "bem radical".

    Beijo,
    Lola.

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  2. Temos que ser, Lola. É desse jeito que aos poucos as coisas mudam.

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