Que nem limão

Que nem limão

quinta-feira, 6 de março de 2014

O que a gente usa para se agarrar

Hoje eu queria contar sobre a mulher das rosas. Eu a vi esses dias na rua e, de longe, ela parecia só uma mulher andando com um buquê de rosas vermelhas. Mas aí, chegando perto, você notaria que as rosas já estavam bem murchas. 

Toda rosa de buquê é uma rosa morta. Ao murchar ela anuncia a sua decomposição porque não tem mais de onde tirar energia. A água do vaso é só um artifício insuficiente que, cedo ou tarde, perde a batalha. E aí a gente joga aquele buquê que foi lindo (e que custou muito dinheiro) fora.

Eu não sei dizer se aquela senhora de cabelos descoloridos pela metade tinha sido a destinatária original daquele buquê. A minha suspeita é que ela o encontrou no lixo de alguém. Eram restos mortais de um presente de aniversário, de casamento, de namoro. Quem sabe os restos de um pedido de reconciliação. 

Fantasiar sobre a vida dos passantes é uma distração. Aquela longa raiz de cabelos brancos, aquela marcha firme e rápida e a maneira com que ela se agarrava àquele buquê que alguém jogou fora me fez sentir um tipo de tristeza.

O andar resoluto dela estava em contradição ao rosto encoberto pelas rosas firmemente agarradas na altura da cabeça. Queria saber o que ela iria fazer com aquelas rosas, mas pensei que era melhor eu seguir com a minha vida, porque não há quem não tenha que buscar algo similar às rosas para se agarrar, para poder continuar andando em frente e olhando em frente.

Um comentário:

  1. "porque não há quem não tenha que buscar algo similar às rosas para se agarrar, para poder continuar andando em frente e olhando em frente."

    <3

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