Que nem limão

Que nem limão

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Se eu escrever sobre a coxinha, todo mundo lê.

Nenhuma novidade nisso que vou dizer, mas as pessoas não leem mais.

Quando digo isso, não me refiro aos clássicos, às obras com 400 páginas. Elas não leem para além de uma manchete. E o resultado disso é que elas reproduzem muitas opiniões formadas por quem escreveu a manchete e repetem o que queriam que elas pensassem em primeiro lugar, assim que batessem os olhos nas palavras que não costumam ser ingênuas.

As pessoas também não leem mais blogs ou textos muitos longos na internet sobre qualquer coisa. Elas procuram palavras-chave em um texto ou comentário longo com que elas se identifiquem e regurgitem. Deve ser gastura o que elas sentem quando o que se escreve excede cinco linhas. 

E não é toa que as maiores bobagens são ditas no curto espaço do twitter.

Não é a toa também que esse espaço seja utilizado para propagar aquelas posições massificadas, tidas como indiscutíveis. Mas existe uma coisa sobre essas opiniões: sempre estiveram por aqui. A internet não foi o criadouro delas, só nos aproximou, nos fez conviver com elas.

E uma coisa sobre a qual eu venho pensando é na seguinte: antes a gente era capaz de manter anos de convivência e até de amizade sem conhecer profundamento os sentimentos de nossos conhecidos e amigos sobre muitas coisas, porque muito assuntos são propositadamente evitados. E às vezes a gente passa anos falando sobre banalidades com as pessoas mais próximas. 

E elas não são pessoas desprezíveis, não são apenas as pessoas com quem a gente conversa no elevador. Elas só não se acostumaram a pensar (sobre as coisas que elas não leem mais) a partir de uma outra perspectiva. 

Vou me corrigir aqui: as pessoas não leem. Retirem o "mais". E se você tiver uma opinião cuja profundidade exceda um palmo, você é chato. E pedante. E elas param te de seguir no facebook. Não que você se importe. Afinal, se é melhor não ler o que elas escrevem, a recíproca deve ser verdadeira.

Escrevi isso porque hoje cheguei à conclusão que há banalidades mas legíveis. Tipo falar sobre coxinha. Não a pessoa coxinha. A comida mesmo. Vai ver rola uma identificação. 

Um comentário:

  1. li numa tirinha "não existem assuntos que não se discutem, existem pessoas com quem não devemos discuti-los".

    você sempre será fonte de inspiração para debates mais profundos, Gezoca. Você vai mais alé, você não só lê, você escreve. ;)

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