Que nem limão

Que nem limão

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

2016, me ajuda a te ajudar.

Eu resumiria 2016 com um grande suspiro. Aquele que a gente tem que tirar lá do diafragma para ver se experimenta algum alívio àquele aperto no peito. Angústia é outro nome que esse aperto tem. O meu diafragma fez hora extra esse ano.

Eu resumiria 2016 como o ano do textão. É preciso de muito simbólico para dar conta de destituição imaginária que a gente viveu em um ano em que descobrimos a facilidade com que as  nossas instituições podem ser destruídas. Não existe nada que garanta o estado das coisas, isso pode ser muito bom para alguns assuntos. E muito ruim para outros, como estamos vivendo e viveremos na pele pelos próximos anos.   

Eu resumiria 2016 como o ano das oposições marcadas com dentes e garras à mostra. Ou você é uma coisa ou outra. Não foi um ano para ponderações, entendidas como sinal de fraqueza, de neutralidade. Esse foi o ano em que assassinamos simbolicamente o outro. É porque quando só cabe um tipo de discurso, os outros silenciam. E se silencia quem enuncia a palavra, mata-se o sujeito. Toda vez que eu calei alguém, permiti que coubesse apenas um posicionamento. Desse jeito, vamos longe...

Eu resumiria 2016 como o ano em que eu aprendi que o real do corpo é uma merda. Que não fumar, não beber, comer direito, fazer exercício físico, levar uma vida equilibrada não te garantem nada. Toda vez que eu ouço a pergunta "como está o seu pai?", eu sei que a resposta é "ele está melhor". Melhor em comparação ao pior em que ele já esteve. Até aqui as emergências do real do corpo tinham sido muito pequenas na minha vida. Esse ano, as senti como um trator que passou por cima da gente e, como nos desenhos animados, ficamos achatados no chão. Ainda estou me recuperando desse achatamento. Posso dizer que continuo andando meio plana por aí e  não fui capaz de sair de mim e dos meus para olhar mais ao redor. O movimento de rotação imperou por aqui. Peço desculpas por isso.

Eu resumiria 2016 como o ano em que o cheiro de fim de ano não veio. É que eu sempre sentia um cheiro diferente e muito gostoso quando chegava essa época do ano. Não sei descrever, não é nada no ambiente. É alguma coisa em mim. Desde que tenho lembrança desse cheiro (acho que eu comecei a percebê-lo quando eu tinha uns 4 anos), essa foi a primeira vez que ele não apareceu. O ano acabou sem aviso, com os dois pés no peito. Deve ser por causa do achatamento que descrevi antes. 

Mas eu pedi para que 2016 me ajudasse a ajudá-lo. E ele fez isso, pelo menos do ponto de vista pessoal (que é o que eu sou capaz de considerar, já que estou em movimento de rotação).

Ele me deu amigos que eu quero sempre comigo; viagens que me abraçaram por dentro; me fez ver que lá em casa as pessoas conseguem se ajudar quando a situação aperta; que eu sou reconhecida no que eu faço. E ele me deu o começo do melhor plano: aquele que vai tornar a distância que eu venho percorrendo em milhas se reduzir a distância de um abraço. E eu sempre lembrarei dele por isso.


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